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No Domingo de Páscoa

No Domingo de Páscoa

segunda-feira, 10 de abril de 2017

"Rotina"

Por Helena Matos
Os gritos "porcos judeus" ouviram-se em Paris esta semana. Uma mulher judia foi assassinada. Por um vizinho louco dizem as autoridades. Por um muçulmano radicalizado dizem os vizinhos.
Enquanto escrevo vão chegando notícias de atentados contra cristãos no Egito. O atentado da Suécia já saiu dos títulos. Entretanto na Noruega desmontam-se engenhos explosivos.
Já não há velas, nem flores, nem lágrimas. Entrou na rotina. Por rotina também tento confirmar se já saíram notícias sobre a morte de Lucie Sarah Halimi. Não encontro nada. O silêncio, o faz de conta que não tem interesse, o não é bem assim ou quiçá falar nisso seja "anti-islão" predominam há largo tempo nesta matéria. Por isso a morte de Lucie Sarah Halimi passou como se tivesse sido o caso de uma senhora sexagenária assassinada por um jovem vizinho prontamente classificado como desequilibrado.
Mas procurando mais um pouco constata-se que Lucie Sarah Halim, 67 anos, assassinada na noite de 3 para 4 de abril, num bairro residencial de Paris, pode não ter sido vítima de uma querela de condomínio mas sim do ódio aos judeus que muitos muçulmanos não só toleram como traduzem em atos de violência.
Lucie Sarah Halim foi agredida por um jovem seu vizinho de 27 anos. Segundo alguns vizinhos este gritava Allah ou-Akhbar enquanto a atirava pela janela. A confirmar-se esta versão dos fatos Lucie Sarah Halimi é a última vítima da violência crescente exercida sobre os judeus em França.
Nos últimos anos os ataques contra judeus têm-se multiplicado: foi o adolescente que em Marselha de machado em punho atacou um professor judeu (11 de janeiro de 2016); o grupo que cercou o carro onde viajavam dois jovens com kippa e os agrediu violentamente (24 de fevereiro de 2017); o homem com kippa que foi esfaqueado em Estrasburgo (agosto de 2016); o clima de insegurança nas escolas judaicas que em 2012 sofreram ataques com vítimas mortais.
Os agressores regra geral são muçulmanos que os vizinhos dizem radicalizados mas que as autoridades começam por apresentar como doentes mentais, pequenos traficantes ou ladrões tão inofensivos que até acreditam que todos os judeus são ricos.
Contudo desde que em fevereiro de 2006, em Paris, foi descoberto agonizante o jovem Ilan Halimi, torturado durante três semanas pela designada Gang dos Bárbaros - do qual aliás fazia também parte um descendente de portugueses - tornou-se claro não só que o anti-semitismo existia mas também que o medo das autoridades em assumir esse fato as paralisava: ao recusarem poder estar diante de um caso de anti-semitismo as autoridades francesas excluíram linhas de investigação que as podiam ter levado aos sequestradores do jovem judeu. Ian Halimi foi descoberto na via pública ainda com vida mas morreu a caminho dos hospital. Preso e condenado o chefe da Gang dos Bárbaros tem dado largas ao seu radicalismo islâmico na prisão.
O recente assassínio de Lucie Sarah Halimi, os gritos "porcos judeus" e as garrafas atiradas aparentemente por magrebinos sobre as pessoas que integraram a manifestação de pesar pela sua morte a par da quase invisibilidade mediática deste caso só surpreendem quem não segue a realidade francesa.
Sintomaticamente o número de judeus que está a deixar a França aumenta. Os que partem apresentam como uma das razões que os levou a tomar essa decisão não tanto a questão da insegurança - os que deixam a França são suficientemente abastados para o poderem fazer logo vivem em bairros mais abastados onde a violência não se coloca com a intensidade que adquire nas zonas mais periféricas - mas sim o fato de quererem poder ser judeus pois a laicidade e as medidas de segurança tornaram-se uma ditadura em que todos, à exceção dos fundamentalistas, devem esconder os seus sinais religiosos.
E claro há também nesses judeus que deixam a França (e também a Bélgica e a Suécia) o desejo de viver num local onde não vejam o medo no olhar dos seus interlocutores pois, num sinal óbvio dos tempos que vivemos, aquele convite para jantar a uma família judaica vai-se adiando não vá algum vizinho irritar-se e ter um daqueles episódios de alienação mental que os pode lavar a investir de faca ou bomba em punho contra os seus semelhantes enquanto gritam que Alá é grande.
O desinteresse com que as redações europeias começaram por olhar para as agressões aos judeus em França transferiu-se em seguida para a Suécia: os ataques aos judeus em Malmo foram um dos primeiros sinais de que no paraíso oficial da multiculturalidade algo estava correr muito mal. Depois veio a fase da negação. Agora temos uma fé: acredita-se que os fatos não ocorrem se não os referirmos.
Mas por mais que isso nos custe a admitir os judeus partem porque os fundamentalistas já estão aqui. E estão a mudar o nosso modo de vida.
Dizem agora alguns dos protagonistas dos celebrados acontecimentos num hotel espanhol que os estragos causados surgiram num ato de "revolta" contra a gerência do hotel. Portanto os infantes quando se revoltam partem o que lhes aparece?
Os jovens da geração mais preparada de sempre, da consciência do corpo, da educação sexual e para a cidadania (com e sem sexo), do apoio psicológico, do trauma e da intolerância à lactose não sabem que existe um objeto chamado livro de reclamações?
Filipe II não tinha um fecho éclair e estes adolescentes a quem as manias da pedagogia e as alterações da família tornaram numa espécie de reizinhos partem móveis para protestar contra a falta de papel higiênico.
Toda a vida houve quem fizesse disparates. Mas os disparates eram isso mesmo: disparates. Agora são ato de "revolta". Não sei que notas têm estas criaturas a Português e Matemática ou se já andam nos currículos da felicidade da Catarina Martins. Mas em matéria de eduquês já passaram com distinção.
Fonte: Observador


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