Editorial
Seria desastroso se a rapidez com que a Polícia Federal concluiu o
inquérito da Operação Porto Seguro sinalizasse alguma interferência indevida
nas investigações, em que se destaca a ex-chefe de gabinete do escritório da
Presidência em São Paulo Rosemary Noronha, ligada a Lula.
Embora o superintendente da PF em São Paulo, Roberto Troncon Filho,
houvesse previsto que o relatório final seria encaminhado à Justiça entre o
final de janeiro e início de fevereiro, ele foi entregue na sexta-feira.
Ao comparecer ao Congresso, na semana passada, para dar explicações
sobre o caso, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu a lisura do
trabalho da PF, sob sua subordinação.
O ministro e a PF merecem o benefício da dúvida, pois, quanto mais não
seja, a outrora todo-poderosa chefe de gabinete do escritório da Presidência em
SP terminou indiciada por formação de quadrilha, como deveria ser, além de
acusada por corrupção passiva e tráfico de influência.
Importante é que o inquérito pode ser aprofundado pelo Ministério
Público. É o que se espera, porque o que até agora foi revelado leva a se supor
que o poder de influência de Rosemary Noronha deve ter patrocinado um festival
ainda mais amplo de "malfeitos".
A foto publicada no fim de semana pela revista "Veja", em que Rose
aparece em casa de praia, na Bahia, compartilhando momentos de lazer de José
Dirceu e a namorada, Evanise, confirma o franco acesso da ex-chefe de gabinete
aos elevados escalões petistas.
Aliás, consta que Rose, antes da vitória de Lula em 2002, atuou no PT
como secretária de Dirceu. Depois, já em Brasília, passou a trabalhar com o
presidente.
Noticia-se que se passa um pente-fino em pareceres lavrados pela
Advocacia-Geral da União (AGU), onde o esquema patrocinado pelo poder de
influência de Rose no Planalto era representado pelo advogado-geral-adjunto
José Weber Holanda.
O caso do favorecimento, via corrupção, do ex-senador Gilberto Miranda,
interessado não apenas em legalizar a posse de uma ilha no litoral paulista,
mas em usar outra como terminal de contêineres, pode não ser o único. Não se
pode ter dúvidas quanto a isso.
O poder de Rose ficou evidente no atropelamento dos ritos no Senado na
aprovação de Paulo Vieira para uma diretoria da Agência Nacional de Águas
(ANA). Não se tem notícia de alguém rejeitado pela Casa que tivesse a nomeação
afinal aprovada, e a toque de caixa.
A colocação de Paulo Vieira na ANA, a do irmão dele, Rubens, na agência
de aviação civil (Anac), a conexão valiosa na AGU, assim como na Secretaria do
Patrimônio da União (SPU), onde atuava Evangelina de Almeida Pinho,
superintendente em São Paulo, formam uma teia com enorme capacidade de "vender
facilidades" a interessados.
O MP e as respectivas corregedorias que atuam no esclarecimento do
escândalo dentro do governo precisam trabalhar até se ter a certeza de que nada
mais há a esclarecer.
Fonte: "O Globo"
Um comentário:
E tomara, desta vez, não se esqueçam de investigar aquela criatura sem memória, surda e muda, também.
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