Por Carlos Chagas
Ontem foi dia de barro no ventilador, esgotando-se
em poucas horas a edição de O Estado de S. Paulo, com revelações de estarrecer.
É reproduzido o depoimento de Marcos Valério à Procuradoria Geral da República,
em setembro, envolvendo o ex-presidente Lula, José Dirceu, Delúbio Soares,
Antônio Palocci e outros.
Ninguém é obrigado a acreditar nas denúncias do
operador do mensalão, que procura livrar-se da pesada sentença de 40 anos de
reclusão. Seu relato, porém, tem começo, meio e fim, ainda que se tenha
referido apenas a uns poucos episódios do escândalo. Terá o esquema criminoso
de recolhimento de recursos ilegais contribuído para pagar despesas pessoais do
Lula, ainda que com a modesta quantia de cem mil reais, quando os mensaleiros
amealharam centenas de milhões? O que dizer da chantagem que um empresário de
Santo André teria desenvolvido contra o ex-presidente, contra José Dirceu e
outros auxiliares, em torno do assassinato do prefeito Celso Daniel? Dá para
acreditar que Valério, no gabinete presidencial do palácio do Planalto, tenha
ouvido do Lula estímulos aos empréstimos do Banco Rural ao PT? Ou que o
ex-presidente tenha atuado para pedir à Portugal-Telecom a liberação de milhões
para o partido dos companheiros, através de seus fornecedores? Por último, terá
mesmo Valério sido ameaçado de morte pelo mais chegado assessor do Lula, Paulo
Okamoto, caso não se comportasse e mantivesse o bico calado?
São gravíssimas as acusações, ainda que o acusador
deva comprová-las. Mesmo assim, falta uma palavra dos acusados. Não adiantará
mais botar a culpa na imprensa ou na oposição. O país inteiro aguarda a palavra
que salva ou o gesto que mata.
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