Condenado a mais de dez anos de prisão pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) por formação de quadrilha e corrupção ativa, o
ex-ministro José Dirceu já conhece seu destino - e não se conforma. Antes de
começar a cumprir sua pena, que deve ser iniciada em regime fechado, o petista
tenta há semanas organizar eventos com militantes do partido em sua defesa. Mas
o que Dirceu não esperava era que seu prestígio estivesse tão baixo dentro da
legenda onde construiu sua trajetória política e onde alcançou posto de líder
influente. Os três primeiros atos organizados até agora foram esvaziados e não
produziram nenhum barulho.
O golpe de misericórdia veio na reunião do
Diretório Nacional do PT na sexta-feira, 7, em Brasília. Representando
Dirceu, Serge Goulart, da tendência radical O Trabalho, apresentou uma moção
sugerindo que o partido fosse às ruas para promover atos contra o STF e que não
reconhecesse o julgamento do mensalão, segundo informou o jornal "O Globo".
Porém, a proposta nem chegou a ser votada. A direção do PT não ousou dar início
a um confronto com o órgão que encabeça um dos poderes da República - e também
não quis submeter os mensaleiros a mais uma derrota pública. Após o encontro, o
partido divulgou uma nota, mas nenhuma linha fazia referência ao mensalão.
Os apoiadores de Dirceu tentaram reunir
militantes em atos em São Paulo, Osasco
(SP e Curitiba. Na próxima semana, deverão ser feitas novas
tentativas em Guarulhos (SP) e Porto Alegre (a menos que a decisão do diretório
nacional enterre de vez os planos de Dirceu).
Em Osasco, o anfitrião do encontro realizado
em uma escola foi outro condenado no mensalão, o deputado João
Paulo Cunha. Ao grupo, também juntou-se o ex-presidente do PT José
Genoino. Na plateia, entretanto, os políticos mais ilustres eram
vereadores e prefeitos de pequenos municípios paulistas, como Bofete e
Jaboticabal, além de representantes de partidos nanicos como o PSDC e PTN. O presidente
do PT, Rui Falcão, e os deputados Jilmar Tatto (PT-SP), líder do PT na Câmara,
e Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo, que haviam sido inicialmente
anunciados como participantes do evento, não foram. Ao explicar as ausências,
os organizadores culparam o "trânsito de São Paulo".
O ex-chefe do PT e ex-homem forte do governo
Lula, acostumado a agendas requisitadas e à tribuna da Câmara dos Deputados,
teve dificuldade para reunir 150 pessoas em Curitiba, a maioria estudantes no
último dia 3. O organizador foi o deputado federal Zeca Dirceu (PT), seu filho. No Paraná, o
partido conta com quadros nacionais, como o casal de ministros Paulo Bernardo
(Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e o deputado federal Dr. Rosinha.
Mas apenas o secretário nacional de comunicação do PT, o paranaense André Vargas, compareceu.
Em São Paulo, um novo encontro reuniu Dirceu
e Genoino na sede do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, no dia
24. A única cara conhecida na plateia era o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), e
o encontro foi preenchido por militantes do Fórum do Diálogo Petista, criado
por filiados de correntes consideradas radicais do PT. No discurso, Dirceu
repetiu a ladainha de que sua condenação foi um golpe da elite e da imprensa,
falou em "martírio" e chegou a afirmar que só não foi "fuzilado porque num
Estado democrático de Direito não há pena de morte".
Suplicy afirma que participou do encontro
esvaziado para ouvir Dirceu. "Eu conheço os três (Dirceu, Genoino e João Paulo
Cunha) há 32 anos. Fui lá para ouvir, refletir. Fui para isso. Acho que é uma
questão dolorosa. Sobre ausências eu prefiro só responder por mim. Cada um é
cada um", disse Suplicy.
São essas correntes petistas que têm
pressionado o partido para que a direção nacional seja mais enérgica ao
defender os réus. Dirigente da tendência O Trabalho, Markus Sokol disse em
novembro que existe "insatisfação na base do partido" com a forma com que o
partido tem lidado com o resultado do julgamento - tímida, na sua opinião. "Se
ficar sem resposta, outras organizações que incomodam a elite dominante não
poderão se sentir garantidas", disse o dirigente.
"Falta solidariedade no nosso partido. É na
hora ruim que se conhece o companheiro. Eles [Dirceu, Genoino e Cunha] merecem
mais do nosso carinho", afirmou em Osasco o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP),
um dos petista que saiu em defesa do ex-ministro publicamente. A desculpa de
petistas para não comparecer tem sido de que os atos não são eventos oficiais
do partido e não contam com a chancela dos diretórios locais.
O PT fará de tudo para minimizar os danos do
julgamento do mensalão. Tentará reescrever a história, afirmando que não se
valeu de métodos criminosos para assegurar o poder. Mas, no momento ao menos,
não existe apoio irrestrito aos condenados pelo STF. Se isso representará a
derrocada definitiva de José Dirceu, uma das figuras mais poderosas do PT - e
também do país, no início da década passada - é uma história a se acompanhar de
perto.
Fonte: "Veja"
Um comentário:
Prá mim, Dirceu já era. Gostaria de ter outracerteza: de que também é o fim de Lula.
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