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quinta-feira, 19 de julho de 2007

A tristeza do Jeca

Por João Nemo, em 19 de julho, no site Mídia Sem Mácara (midiasemmascara.org):
O presidente Callamares declara ter ficado triste. É de cortar o coração imaginar que aquela figura de bem com a vida, que foi tão cuidadosamente cinzelada ao longo dos últimos anos, possa estar sofrendo por tão pouco. A razão pode ser expressa nos belos versos de Angelino de Oliveira:
Quando chega a madrugada
Lá no alto a passarada
Principia um barulhão
Foram as vaias do Maracanã, cuja gênese já inspira nos seus devotos as mais delirantes explicações. A última que li atribui ao Prefeito do Rio a capacidade de ter ensaiado o episódio. Talvez isso lhes tenha ocorrido porque, ao contrário do presidente, o nome do Prefeito foi motivo de aplauso. Mas convenhamos que essa seria uma tarefa acima dos poderes de Gandalf, o fabuloso feiticeiro do Senhor dos Anéis. Levar muitos milhares de pessoas a ensaiarem, sem mais, uma seqüência de vaias ao apedeuta é algo que exige poderes incríveis e requer mais imaginação que para escrever a famosa obra. O episódio nada teve a ver com a “Terra Média” dos livros de Tolkien, mas provavelmente com o sentimento da “classe média” que tem escassas oportunidades de expressá-los. Mesmo que um pequeno grupo fosse o autor inicial da vaia, por que diabos dezenas de milhares de pessoas o seguiriam? Mais provável seria reagirem com o sentimento pudico que muitos petistas convertidos, embora tardiamente, ao “fair play” político apregoam: fica feio fazer isso em rede internacional. Mas o fato é que lá estavam, quase exclusivamente, representantes dos burros de carga que não recebem afagos de verbas e benesses, como o grande empresariado, nem participam da política marsupial, distribuidora de bolsas e migalhas. É, como se diz, gente que rala, ou no esporte ou noutro batente qualquer.
O sentido político do ocorrido existe, mas não deve ser superestimado. Na verdade essa coisa não significa muito e o público, num clima de interatividade e alegria festiva resolveu sonorizar o que bem entendia: brincou com o “hoy” hispânico do presidente Vasquez Reña respondendo “Ooooii!”; vaiou os americanos e aplaudiu os cubanos, sabe-se lá o porquê e, finalmente, expressou uma aversão que muitos, mas muitos mesmo, vão acumulando pelo grande timoneiro como “nunca antes neste país”. Qualquer um que já tenha acompanhado uma campanha eleitoral sabe que vencer eleições é um coisa e ser amado é outra completamente diferente. Com vaia ou sem vaia Lulla ainda poderá vencer eleições, principalmente se considerarmos a máquina de produção de “mimos” que está montada, as fraquezas da denominada oposição e a obtusidade estratégica dos seus adversários.
O mais instrutivo do episódio foi a hipersensibilidade demonstrada e a confusão produzida pelos zagueiros que guarnecem a área na tentativa de evitar constrangimentos ao grande líder. Qual a razão disso? Por que uma vaia que poderia ser encarada como episódio isolado tornou-se tão crítica a ponto de exigir de petralhas e filopetralhas um esforço de imaginação na tentativa de negar, depois explicar e finalmente acusar alguma conspiração? Houve até pérolas do tipo: “ali não estava o povo; somente os ricos”. Pelo contrário, estivessem os ricos só haveria bajulação abjeta; estavam os que pagam impostos, acompanham o noticiário e têm intuição para saber quando algum político se prepara para “faturar” em cima do evento. Pena que não disponham de instrumentos para expressar seu sentimento de forma mais freqüente e eficaz, sem ser preciso recorrer a pequenas irreverências como essa.
O que provoca uma reação aparentemente desproporcional é o fato de que Lulla é, na verdade, uma figura sem conteúdo, com talentos de palco mas frágil e inconsistente, cuidadosamente protegida por um esquema de blindagem minuciosamente trabalhado. Mal fora eleito e seus mais íntimos companheiros, imediatamente, passaram a só se referir a ele com grande circunspeção: “o presidente Lula”. Eles conhecem como ninguém a importância do simbólico. Jamais foi perdido o controle da sua exposição à mídia; a sua imagem é protegida como um patrimônio insubstituível; uma rachadura nessa couraça poderia significar a rápida degradação da imagem tão zelosamente construída. Por outro lado, anos a fio de incenso bajulatório o está levando a acreditar na própria lenda. Sua frase no “café com o presidente”, quando se declarou tristinho, é por demais sintomática: “Isso não muda um milímetro o meu comportamento com o Rio de Janeiro”, como se um presidente pudesse pautar seu comportamento pelas demonstrações de afeição que recebe ou deixa de receber aqui ou ali. Essa é uma idéia, na melhor das hipóteses, do tempo do absolutismo monárquico.
Quando deveria dar um outro fecho a este artigo, infelizmente, aconteceu o terrível acidente de Congonhas, com uma aeronave derrapando na pista e explodindo de encontro ao prédio da TAM. As condicionantes que acabaram por produzir tal desgraça são sugestivas para todos, mas prefiro me abster de qualquer comentário a respeito antes de conhecermos melhor o caso. Entretanto, podemos notar que a primeira medida do “planalto” foi uma reunião de emergência com três ministros de confiança, particularmente o da Comunicação Social, entenda-se “propaganda e contra-informação”. Como o “apagão” aéreo tem exigido artes circenses do governo para evitar que lhe seja, corretamente, remetida a fatura, é preciso trabalhar rápido porque, naturalmente, o impacto dessa tragédia anunciada tenderá a cair sobre a sua cabeça. Considerando que o acidente já aconteceu e as vítimas já foram perdidas, a verdadeira emergência para a equipe, agora, é essa. Os candidatos a bodes-expiatórios que se cuidem.
João de Oliveira Nemo é sociólogo e consultor de empresas em desenvolvimento gerencial.

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